segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Pés descalços rumo ao título...

O dia era tenso... Dormir na noite anterior? Só se fosse acordando de meia em meia hora... Nervosismo à flor da pele... O dia só poderia acabar de duas formas: Para este dia só haviam duas possibilidades: Ou seria trágico ou seria mágico... E na cabeça dele tudo dependia de uma série de fatores... São as famosas superstições que jamais falham para o torcedor...  E ele não era diferente de todos os outros... Tem suas supertições e não abre mão delas... Precisa de todas, pois, com elas, o título tricolor estaria encaminhado... Camisa tricolor, bermuda, de chinelo, sem a munhequeira do Thiago Silva e sem a bandeira nova... Eram as superstições que precisavam lhe acompanhar naquele momento...

E assim foi...

A camisa? Só pode ser a tricolor... Nada de camisa branca ou camisa de goleiro, tem que usar a tradicional, a camisa clássica... A clássica... Camisa clássica porque logo é associada a craques do passado... Precisávamos da energia deles...

Calça? Nem pensar... Ele sempre esteve de bermuda quando o time foi campeão... Qual o sentido de mudar agora?

Munhequeira do Thiago Silva? Em circunstâncias normais ela estaria presente, afinal, ela está invicta. Viu várias vitórias e um empate... Opa!! Parou aí!!! Viu um empate? Então está barrada! Ao Flu apenas a vitória interessava, então ela foi barrada. E lá foi ele sem munhequeira...

E a bandeira? Ah, a bandeira recém-comprada tinha que ir... Opa, mas a bandeira é nova, não viu nenhum jogo ainda... Achou melhor colocá-la no banco de reservas, não era hora para lançar um novo talento, corria o risco da revelação sentir a pressão de uma final e decepcionar... Em time que está ganhando não se mexe, então não será desta vez que a bandeira fará sua estréia...

E lá foi ele... Sem conseguir ingresso, foi para um bar com a namorada, cunhado e amigos, tudo pronto para assistir o grande jogo e, graças a sua superstição (tão ou mais importante que o esforço dos jogadores), conquistar o terceiro título brasileiro, após 26 anos...

Após uma espera que foi uma das mais longas de sua vida, tamanha a ansiedade, começa o jogo... Time visivelmente nervoso... Errando passes bobos... Perdendo bolas bobas... Não conseguindo acompanhar a velocidade dos contra-ataques do adversário... Adversário este, que resolveu jogar o futebol que não jogou no campeonato todo...Algo estava errado... Não era o mesmo fluminense de todo o campeonato... Alguma coisa não fazia sentido nessa história... Alguma coisa não estava batendo...

Fim do primeiro tempo... Um 0x0 e seu time estava irreconhecível... Faltava algo que ele não sabia o que era... Eis que sua namorada olha para baixo e nota um detalhe em seus pés... TÊNIS!!! "Tirou o tênis?" - perguntou ela. Ele olha para baixo e percebe aquilo que faltava... Estava explicado o porquê de atuação tão pífia de seu time... Como ele pôde esquecer? Uma desatenção e poderia colocar tudo a perder. Ele não conseguiria viver com este peso na consciência de ter sido o responsável direto pela derrota do seu time de coração em um dos jogos mais importante de seu time nos últimos 26 anos... Tênis tirado na mesma hora, pois esteve de chinelo, com os pés livres, nas finais de 2002 e 2005 do carioca e na final da copa do Brasil de 2007, então não tinha o menor sentido estar de tênis... Esperança renovada... Agora sabia que não faltava mais nada... O nervosismo continuaria, pois era inevitável, mas sabia que agora estava fazendo sua parte...

Recomeça o segundo tempo... Time melhor organizado... Já dava para sentir que os pés descalços começavam a mudar a cara do time... A notícia do tênis tirado chegou nos vestiários... Isto encheu os jogadores de ânimo... Voltaram com outra postura... Foi então que, aos 16 minutos, Carlinhos se livrou da marcação e cruzou... O torcedor olhou para os pés... Washington escorou de cabeça para o meio da área... O torcedor olhou para a tv... Emerson se antecipou ao zagueiro e chutou... Os pés do torcedor tocaram o chão... A bola passou por entre as pernas do goleiro... É GOL!!! Os pés do torcedor saíram do chão... A profecia se concretizou... O nervosismo, por alguns instantes, deu lugar ao choro de alívio... Agora sim o torcedor estava fazendo sua parte... Estava contribuindo para o título... Foi um gol com pés descalços...

E até o fim do jogo, o sofrimento permaneceu... Cada chutão para longe da defesa tricolor era um chute com pés descalços... Ele sabia que bastava um dos pés tocar o tênis que seria fatal... Não poderia haver um só deslize... E, assim, teve toda cautela do mundo...

Simon apita fim de jogo... Nada mais podia tirar o título, ele já era tricolor!!! Era hora de comemorar!!! O torcedor chorava feito criança... E tinha motivos de sobra para comemorar, pois tinha em seu corpo os grandes responsáveis pelo título: Seus pés... Pés salvadores... Ficaram escondidos durante o primeiro tempo too, mas entraram no segundo tempo para dar  título ao Flu... Voltou para casa com a sensação de dever cumprido, após a longa caminhada que é o campeonato brasileiro... Caminhada esta que, para ser vitoriosa, precisou ser feita com os pés descalços...

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